domingo, 29 de novembro de 2009

Ride, Sally, ride!

O domingo prometia chuva, mas não choveu tanto quanto eu imaginava. Garoou um pouco, abriu um sol de lascar, mas até umas 17h, nada de chuva. O que era bom, porque eu tava a caminho do Parque da Independência ver uma das lendas do blues e uma das divas do jazz.

Sempre fui uma grande estusiasta de shows de qualidade ao ar livre e gratuito. E nem é tanto pelo lance econômico da coisa toda, mas sim pela democratização da cultura e pelo livre acesso a todos. Comparando os shows pagos com os gratuitos, percebo (em todos os shows que já fui) que há pessoas muito mais comprometidas com a música que tá tocando nos gratuitos do que nos pagos. O que é, de certa forma, incrível. Mas não vou me deter neste ponto.

Chegando lá no Parque, um bocado de gente pronta a assistir a primeira atração, Dianne Reeves. Voz firme, banda impecável. Muita gente se emocionando, muita gente surpresa por não ter conhecido essa voz antes (eu inclusa). Músicas lindas, com toques africanos misturados com a elegância do jazz. Falou com o público, agradeceu inúmeras vezes, pediu para cantarmos as mais conhecidas. Som recomendadíssimo, desde já.

Dianne Reeves

Logo em seguida, às 17:20, começa o show do Buddy Guy. O cara que foi considerado, por Jeff Beck, Eric Clapton, Jimi Hendrix, dentre outros, um dos melhores guitarristas já existentes. Levando isso em consideração, imaginava um cara extremamente virtuoso. E de fato, ele é, mas sem a chatice que podemos imaginar. Tocou a guitarra de costas, com a barriga, com a baqueta roubada do baterista, com os dentes, mas sempre demonstrando muita alegria e levando tudo na brincadeira. Saiu do palco, chegou a 50 metros de onde eu tava na platéia, acompanhando a banda e tocando, com a ajuda de um fio gigante ligado na guitarra. Falou com amor da cidade de São Paulo, arriscou um obrigado em português (o que sempre leva a multidão brasileira ao delírio) e tocou de maneira magnífica.

Buddy Guy

Ah, sim. A chuva resolveu aparecer bem no começo do show do Buddy Guy. E uma chuva torrencial, que durou as primeiras quatro músicas. Mas que só serviu para lavar ainda mais a alma do povo que tava lá, se encharcando e curtindo um dos melhores sons que já ouvi ao vivo. E, apesar de estar com meu guarda-chuva na bolsa, fiz questão de esquecer ele lá e me divertir na chuva.

Se bem me lembro, não tinha ido a nenhum show esse ano. E esse nem foi tão comentado pela mídia, já que foi ofuscado pela avalanche de shows de grupos mais famosos nesse fim de ano. Mas nem por isso o público foi menor. Quando estava saindo de lá, ao chegar no ponto mais alto do Parque, a quantidade era tanta que fiquei bem surpresa de ter tanta gente conhecedora de música boa e que foi lá não porque o show era gratuito, mas sim pela qualidade. Porque era tanta gente comentando de tal música, de tal baixista, que pareciam íntimos dos ícones a muito tempo.

Só de ouvir todo mundo (sem exceção) cantando "Hoochie Coochie Man" e "Mustang Sally", já dava a sensação de que eu estava mesmo em casa.

Foi o show pra fechar bem o fim de semana tranquilo e sem álcool (depois de uma pequena reflexão e também de algumas "broncas"). Foi o show pra fechar bem o ano, já que desisti de ir ao dos Beach Boys. Foi o show que valeu a pena ter ido sozinha e me deparar com tanta gente igual a mim. A muito tempo isso não acontecia....e como foi bom!

PS.: tinha ido, sim, a mais shows este ano. Do Beto Guedes, do Kraftwerk e do Radiohead.

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