quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres e moradia

Vai ser meio que continuação do já antigo post anterior.

Depois do happy hour com os novos amigos de trabalho e alguns velhos amigos da vida, nesta quarta-feira, recebo uma mensagem da minha irmã sobre uma ocupação no centro que seria feita por mulheres dos movimentos por moradia - por conta não só dos milhares de problemas habitacionais no estado, mas também pelo dia internacional da Mulher. Isso já era 23:00h, a concentração seria na Liberdade, na mesma hora. Ficamos no bar até às 23:30h, e discutimos um pouco sobre a ocupação e os reais interesses, eu sendo bem reticente. Decidi ir, e eu tava bem curiosa para saber como seria uma ocupação. Porque, apesar de sempre ser a favor de ocupações, nunca tinha acompanhado uma de perto.

No fim, fomos eu e mais uma amiga (uma das responsáveis por eu estar no atual trampo - e velha companheira de reflexões políticas). Estava frio e não sabíamos o endereço. Liguei pra minha irmã, ela também não sabia. Um amigo nosso em comum nos passou o número, e fomos a caminho, mas foram as mulheres que nos encontraram. Cerca de 70, em passeata até o prédio a ser ocupado. Perguntamos se estavam na reunião, nos confirmaram e que estavam indo pra ação. Acompanhamos, fazendo várias conjecturas sobre o que iria acontecer. 

Chegamos no lugar, havia cerca de 100 mulheres. Aos poucos ia chegando mais gente, acho que no total tinha umas 200 pessoas, maioria mulher. Quando chegamos tinha umas 20 pessoas já dentro do prédio, e uns 5 policiais militares impedindo qualquer um de entrar. Ficamos olhando as bandeiras dos vários movimentos, observando discussões de policiais com alguns manifestantes. Prestamos bastante atenção ao diálogo das mulheres com os policiais, elas sempre muito amáveis e firmes, eles com olhar blasé, mas sem violência. 

À 1:00h, parecia que nada ia acontecer. As mulheres continuavam gritando palavras de ordem, policiais continuavam inflexíveis na proteção de patrimônio privado abandonado. Decidimos ficar mais meia hora, para ver se acontecia algo, mas já sem esperança. De repente, os policias saem da frente da porta, se dirigem aos carros e vão embora, e enquanto os manifestantes entram, outras mulheres se despedem carinhosamente dos policiais, agradecendo e tudo mais. 

Eu nunca tinha acompanhado uma ocupação, mas ver os policiais saindo e deixando o caminho livre era inimaginável. Até minha amiga, bem mais militante que eu, estranhou. Ficamos ainda mais meia hora após a entrada, para ver se a polícia tinha desistido mesmo. Eles não voltaram, e quando foi 2:00h decidimos ir embora. A ocupação foi um sucesso, acredito que estão lá até agora, e acredito que vão ficar por um bom tempo.

Noite de muito pensamento. De bater uma certa depressão ao chegar em casa. De ver que, mesmo entre os poucos que tem algo, esse algo já é muita coisa. 


2:00h - ocupação concluída