terça-feira, 5 de julho de 2011

Primeira reunião

Hoje me lembrei da primeira reunião que tive numa das comunidades que trabalhamos em Embu.

Eu era novata no trampo, devia ser a terceira semana de trabalho. Isso foi em julho de 2009.

Depois de ouvir, numa reunião geral, que deveríamos fazer uma reunião no Valo Verde por causa de algum relatório que a Caixa pedia, a idéia ficou no ar. Minha chefe ia sair de férias, eu mal tinha tempo de entender onde ficava tais lugares que fazíamos intervenção, e ainda por cima tinha de me apressar para fazer dois orçamentos de duas obras que não fazia idéia nenhuma.

Ficava enfurnada com o computador o dia inteiro, o que me fez levar minha primeira de inúmeras broncas da chefe (algo do tipo: "Leila, quando é que você vai falar comigo? Eu nem conheço tua letra!).

Enfim, um belo dia às quatro da tarde a atual assistente social me "intima" a ir na reunião que ela marcou no Valo Verde, de um pessoal que já tinha recebido a casa em 2008. A reunião seria à noite, eu tava empolgada com o trampo e disse que tudo bem. Às cinco horas vejo ela indo embora, e ninguém ficando pra ir na reunião comigo. Ainda recebi bronca porque não tinha combinado com ninguém pra ir (porque eu precisava pelo menos de um motorista - não sei dirigir). Acho que foi ela que ligou pra antiga assistente social, que tinha saído a pouco tempo do escritório e trabalhava em outra prefeitura, mas tenho mais certeza de que foi a orientadora social da época (que também já saiu do escritório), que no fim aceitou ir comigo. As duas.

Bom, eu não sabia onde era, não tinha marcado a reunião, não sabia quem eram as pessoas, nunca tinha tocado reunião em comunidades, era novata no trampo e de profissão, os mais velhos de escritório tinham jogado a bomba na minha mão, e eu não sou assistente social. Pra mim, seria um desafio, e abracei de corpo e alma.

Fomos no carro da antiga assistente social, e chegamos na casa de uma das moradoras. Nunca "apanhei" tanto na vida, porque obviamente eu não sabia de nada. Dos problemas e das promessas. As duas do Social me ajudaram muito. Me apresentaram, disseram que sou novata, consegui resolver alguns problemas, e outros deixei pra pensar depois. Acho que me saí muito bem, modéstia à parte, para quem nem sabia onde estava.

A moradora que cedeu a casa se tornou uma boa companheira de conversa durante as visitas que faço à obra. Me dá café, me conta da vida, me ajuda ao contar das inúmeras histórias do Valo Verde. E eu ajudo no que posso, em questões técnicas de Arquitetura.

Quando minha chefe voltou das férias, ela recebeu uma ligação da moradora acima, dizendo que tinha alguém da prefeitura querendo derrubar o muro dela, e que eu tinha autorizado a fazer, com algumas modificações que fizemos nessa mesma reunião. Quando ouvi a chefe dizer "-Se a Leila falou, tá valendo, é como se eu estivesse na reunião e autorizado também.", senti o peso da responsa e orgulho de ter alguma confiança sobre mim.

Mas o caso é que me lembrei da assistente social que me ajudou e me apoiou na minha primeira reunião na favela à noite por causa de uma conversa com a chefe, hoje à noite.

E me lembro dos detalhes acima como se tivesse acontecido ontem. Me marcaram bastante.
E me lembrei porque tá foda aguentar muita coisa. Lembrar esses tipos de coisa me fazem ficar mais tranquila e ver algum sentido nessa vida embuense.