quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Do interior


Eu não me lembro exatamente como a gente começou a se falar. Lembro que comecei a conversar com alguns da turma dela (meus calouros) já no meu quarto ano de faculdade, e as recém-amizades giravam em torno de cervejas pelo bairro que morávamos em Campinas e festas na Unicamp. Lembro que ela não era uma amiga de fato, mas sim uma boa conhecida.

Lembro que a gente não se falava tanto, mas havia um respeito mútuo que foi se tornando maior nos nossos últimos anos na faculdade. Ela, mais alinhada aos movimentos por moradia, junto a um grupo político que eu demorava pra entender o porquê das suas ações; eu, totalmente voltada ao movimento estudantil. Eu atrasei um ano na faculdade, me formei com a turma dela, e tivemos a mesma orientadora.

Independente da gente não se falar tanto durante a graduação, nos ajudávamos. Qualquer pedido ou favor era prontamente atendido, pelas duas partes. E isso continuou depois de nos formarmos. Seja para contatos de algum arquiteto bacana para trabalhar, ou para fechar o número exato de estudantes a irem para Brasília.

Nos aproximamos mais quando viemos para São Paulo. Ela, ainda engajada nos movimentos por moradia, eu sendo poder público no setor de habitação, de outra cidade. Tínhamos mais assuntos em comum, e agora nos encontrávamos com mais frequência nos botecos da capital. A amizade foi crescendo, e as lembranças das conversas recentes, mais valorizadas. Lembro muito bem de quando falei pra ela dos meus dramas familiares, no qual tive o retorno dela sobre os mesmos problemas familiares que ela enfrentava. Acho que foi a primeira conversa séria que tivemos.

De lá pra cá, as conversas e risadas só aumentaram. Porque foi por causa dela (e de outro grande amigo) que estamos trabalhando no mesmo lugar, lutando pela mesma coisa, confiando cada vez mais uma na outra. Porque só ela consegue me fazer falar de maneira muito natural sobre a vida, sobre o trabalho, sobre os tabus, sobre sexo, sobre o comunismo, sobre o futuro. É com ela que eu consigo dar boas risadas, beber até cair, xingar meio mundo, e ficar absolutamente tranquila depois de tudo.  

Quem diria. Eu, que tenho o coração de pedra e timidez acima do normal, encontrei alguém para desabafar.

[Como eu demorei para reconhecer o valor dessa amizade. Mas como tá valendo muito a pena tê-la como amiga principalmente agora, quando tanta amizade de anos atrás parece se desfazer com tanta facilidade...]