domingo, 28 de novembro de 2010

Sobre a semana

A semana começou com Paul McCartney. Já falei sobre antes. Mas nunca vou cansar de falar disso.

Seguiu com mais um concurso de projetos. O último do ano. Cujo projeto ainda está rolando nesse exato momento. E que tem me ensinado muito sobre o Rio de Janeiro e, sobretudo, sobre fazer projetos de urbanização de modo relâmpago.

Continuou com as obras do Valo Verde, projeto interminável no Jardim Santo Eduardo, apreensão pela ligação de água, esgoto e energia no Jardim Vazame. Em Embu, a semana terminou com uma boa reunião com os novos moradores, com uma proposta séria de mutirão, com a minha empolgação meio contida, meio apreensiva. Com um almoço às 17h. Com conversas boas com a chefe e com a tiração de sarro habitual do meu arquiteto-amigo de trabalho.

Em São Paulo, a semana continuou com uma festa de uma grande amiga, na sexta à noite. Há tempos não voltava às quatro da manhã, semi bêbada. Há tempos não bebia com os amigos até essa hora.

E a semana terminou com a visita ao mutirão Paulo Freire. O mesmo que fui ver em 2005, na Semana de Arquitetura da UNICAMP. Quando, na época, eu ainda não ligava para movimentos sociais, e muito menos para arquitetura na periferia. E que, surpresamente, virou minha atual paixão arquitetônica. Só hoje, 5 anos depois, dei o real valor à essa obra concluída que fui ver hoje. A obra que vi só na estrutura, hoje completa.

E é essa paixão e seus reflexos que tem consumido boa parte do meu pensamento todo dia, desde o revés pré-feriado de Finados. Aliás, esse revés ainda está na minha cabeça e no meu coração. Acho que sou uma pessoa muito rancorosa. Mas vou tentar deixar isso de lado.

Preciso dar valor e pensar mais nas demais coisas que fazem bem. Que me fazem ser melhor. E parar de guardar rancor.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Two of us*


*título roubado na cara dura do site de um amigão meu. E o texto veio de lá também, que por tabela também foi copiado desse lugar.


Por trás dos cabelos longos e bigode, ele está olhando para baixo, observando algo fixamente. É surpreendido pela chegada do companheiro, que possui cabelos ainda mais longos que quase escondem os óculos de aro fino.

O recém-chegado senta-se ao lado do amigo, olhando para baixo e apertando os olhos devido à miopia. Após alguns segundos, pergunta:

– Ele já entrou no palco?

– Já. Está tocando há alguns minutos – responde o amigo.

– Onde é?

– No Brasil. Em São Paulo, acho.

– Está cheio?

– Muito.

O de óculos permanece em silêncio alguns segundos, tentando captar o som que vem de baixo, de longe.

– O que ele está tocando agora? Jet?

– Acho que sim, não dá para ouvir direito por causa da gritaria. Mas acho que é sim.

– Eu gosto desta música.

– Ele está falando com a platéia, mas não consigo entender nada.

– Acho que é português. Não dá para ouvir direito, o público não deixa.

– Com a gente era assim, também. Lembra no Japão? Ninguém ouvia nada.

– Olhe! All My Loving!

Ambos começam a bater as mãos no joelho, de forma quase inconsciente, acompanhando o ritmo da música. “I’ll pretend that I’m kissing…”, o de bigode canta baixinho.

– George! Você ainda se lembra da letra!

– Tem como esquecer? Aposto que você se lembra também.

– Eu me lembro de todas. Todas as músicas. Todos os versos.

– Ele está afinado ainda, não?

– Ele sempre cantou muito bem. Desde menino, ele sempre cantou muito.

Ficam em silêncio mais um pouco, olhando para baixo atentamente.

– Qual é agora? Drive my Car? A platéia esta fazendo barulho demais.

– Drive my Car. Essa é quase toda dele, sabia? Eu apenas ajudei em uns trechos.

– Está no Rubber Soul, né?

– Acho que sim. Sim.

– A platéia está cantando a música inteira.

– Como eles sabem a letra? Eles não eram nem nascidos quando lançamos isso.

– Não sei… Mas eles estão cantando a música inteira, John. Dá para ver daqui.

Permanecem em silêncio por mais algum tempo. O de óculos, mesmo sem perceber, balança a cabeça para os lados discretamente, ao som da música.

– Ele foi para o piano.

– Eu nunca entendi como ele sabia tocar tantos instrumentos. Isso não é normal.

That leads to your door
Will never disappear

– Qual ele está tocando agora? The Long and Winding Road?

– Sim. Veja! As pessoas estão chorando!

Afastando os cabelos do rosto, o míope aperta ainda mais os olhos, vasculhando a multidão.

– Não gosto dessa música – ele diz, mais para si mesmo que para o amigo.

– É linda. Ninguém conseguia fazer baladas como ele.

– Mas não gosto. Nós mal nos falávamos na época.

– Acontece. Acontece com todo mundo, por que não iria acontecer com a gente?

– Verdade.

– Ele está tocando as nossas, olhe. Antes foi And I Love Her. Agora é Blackbird.

– Eu não acredito que as pessoas ainda cantam junto, depois de tantos anos… A letra não está aparecendo no telão? – pergunta o de óculos, abaixando-se ainda mais e tentando ver o palco.

– Não, elas sabem mesmo. Dá para perceber daqui.

– Ele disse meu nome?

– Sim. Você sabe qual ele vai tocar. Ele escreveu para você.

I still remember how it was before,
and I’m holding back the tears no more…

– Você está legal, John?

– Eu e ele perdemos muito tempo. Hoje eu sei disso.

– Eu sei.

– Sabe, George… Se nós soubéssemos que eu teria tão pouco tempo, talvez tivéssemos nos comportado de outra maneira.

– Talvez não. Vocês sempre foram melhores amigos. Ele sabia disso. Ele faz questão de cantar essa, todo show. E ele sabe que você está vendo. Ele não canta para a platéia, ele canta para você. É a forma que ele encontra de matar a saudade um pouco.

– Será?

– Sim. Eu senti muito sua falta antes de nos reencontramos. Olhe as pessoas lá embaixo, estão soluçando. Todos sentem sua falta.

– Eu sinto muito a falta dele. Eu sinto muita saudade da gente. Especialmente do começo. Lembra da Alemanha?

– A gente ainda era menino… Tudo era o máximo, tudo era novidade. Nós éramos novidade.

– Nós ainda somos novidade. Olhe, essa é sua!

You’re asking me, my love will grow?
I don’t know, I don’t know

– Eu me lembro de quando escrevi. Era difícil escrever algo com vocês ali.

– Essa música é linda.

– Olhe! No telão! Ele colocou uma foto minha!

– A gente gostava demais de você. Você era mais novo, víamos você como uma espécie de caçula.

– Eu sei – concorda o de bigode, rindo alto.

Esperam em silêncio a plateia aplaudir. Ao final da música, ambos estão visivelmente emocionados, cada qual com suas lembranças. Os acordes de uma nova canção parecem despertá-los.

– Eu gosto dessa!

– Essa é dele, não é nossa.

– Band on the Run? Mas poderia ser nossa.

– Se dependesse de mim, seria.

– Ah, sim. De todos nós, você sempre foi o mais roqueiro, essa música é a sua cara.

– Ele fez muita coisa boa, né?

– Sim.

Enquanto o de óculos bate os dedos no joelho, o de bigode, sentado de pernas cruzadas transforma sua própria coxa no braço de uma guitarra imaginária. Ambos parecem distantes, talvez pensando não no que foi, mas no que poderia ter sido.

I read the news today oh boy
About a lucky man who made the grade

Enquanto o de bigode tamborila os dedos no ritmo, seu amigo remove os óculos rapidamente. Está chorando.

– Você sempre chora nessa.

– Foi uma das últimas que escrevemos juntos. Mesmo separados. Metade é minha, metade é dele. É estranho, hoje, vê-lo cantando minha parte, e eu aqui.

– Ele não está cantando sozinho.

– Como não?

– Olhe o estádio. É uma voz só, uma voz de sessenta mil pessoas.

– O que são aquelas coisas brancas? Balões de gás?

– Sim.

– Como isso fica bonito, vendo daqui de cima.

– Espere… Give peace a chance? Isso não era da música, certo?

– Não.

– Isso é seu!

– Sim.

– O estádio inteiro está cantando! Olhe os balões de gás! As pessoas estão chorando, se abraçando.

O de óculos resmunga um palavrão, sorrindo. Seus óculos estão embaçados, molhados de saudade.

– Let it be. Essa não poderia faltar.

– Eu não me conformo com isso, com as pessoas ainda saberem as letras inteiras.

But in this ever changing world
in which we live in

– Eu gosto dessa também.

– Uau! Você viu aquilo, John? São fogos?

– Ficou demais, né?

– Nós não tínhamos isso no nosso tempo.

– Nós não precisávamos.

– Mas ele também não precisa. Mesmo assim, ficou lindo.

– O que as pessoas estão cantando, agora? Hey Jude?

– Sim… Estão abraçados, cantando junto com ele.

– É engraçado, George… Eu sei que nós éramos bons… Mas acho que nunca entendi a importância que temos na vida das pessoas, até pouco tempo atrás. Quando eu assisto aos shows dele, e vejo as pessoas cantando junto, chorando… Mexe demais comigo.

– Nós éramos bons, John. Você sabe disso.

– Aparentemente, ainda somos. As pessoas ainda…

– Ainda o quê?

– Sabe, eu estava errado.

– Oi?

– Quando eu disse que o sonho acabou. Eu estava errado.

– Nós três sempre soubemos disso, que você estava errado. Você sempre falou demais. Lembra aquela confusão de sermos maiores que Deus?

– Sim… Mas o sonho… O sonho não acabou nunca. Eu errei.

– John?

– Sim?

– O sonho nunca vai acabar. Não enquanto as pessoas se lembrarem. E elas vão se lembrar para sempre.

Sorrindo, John Lennon levanta-se e oferece a mão a George Harrison.

– Você está com sua guitarra?

– Eu sempre estou com minha guitarra, você sabe.

– Vamos tocar um pouco?

– Qual?

– Qualquer uma. Deu saudade.

Milhões de quilômetros abaixo, Paul McCartney, emocionado, agradece à platéia.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O melhor show da vida

E Paul veio e foi.

Não chorei só na Let'em In. Chorei em todas as músicas. Copiosamente na Something e na Here Today, as duas que ele dedicou aos beatles mortos.

Nas demais, fiquei agradecendo internamente por estar ouvindo as músicas. Por ter tido a honra de estar lá.

O show foi o melhor da vida por diversos motivos:

1. Teve uma puta energia boa. Sem brigas, sem desavenças. Todos na mesma sintonia.
2. Teve as músicas que mais queria ouvir ao vivo.
3. Teve amizades instantâneas que me valeram muito.
4. Teve a alegria dos meus irmãos, felizes demais de estarem lá.
5. Teve choro bom, desses que lavam a alma.

E não me importo se é "só" um ex-beatle, se não eram os Beatles de verdade, se Paul está velho. Era o Paul, e isso me bastava profundamente. Eu fui pra ver ele, fui pra ouvir as versões dele das músicas dos Beatles, fui pra ouvir as músicas que ele fez nos Wings. Fui por ele, não pelos Beatles.

E estou extremamente feliz e radiante com isso.

Porque mudou meu humor. Me fez lavar a alma, de verdade.
Porque me retomou a crença em muitas coisas.
Acho que era exatamente isso que eu precisava na minha vida.

Obrigada, Paul. De coração.

ps.: Eu já fui a muitos shows nesta vida. De todo tipo de música. Todos de ídolos, de artistas que me balizam a vida. O show do Paul foi, de longe, o mais intenso.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Let'em in

Acho que vou chorar quando ouvir esta música em especial, no próximo dia 20, ao vivo.

As músicas pós-Beatles do Sir Paul me surpreendem sempre, mesmo eu conhecendo 90% das músicas.

Não tenho um beatle favorito, não consigo gostar mais de um do que de outro. Gosto do grupo como um todo, sem fanatismo, sem diferenças. Sabendo que cada um fez sua parte para contribuir no todo.

E numa fase que tô bem descrente em muita coisa, acho que uma música que diz que se deixem entrar as pessoas queridas, que elas procurem um lugar de confraternização e de amizade, uma música que diz da reunião de tanta gente diferente e igual ao mesmo tempo, [interpretação livre da música pela minha pessoa], vem a calhar.

E lembrando da conversa do almoço de hoje com a chefe, como é bom às vezes a gente perder o travamento a coisas simples e confiar um pouco mais nas pessoas, sem esperar nada de volta. mas, também, como é bom ter um olhar desconfiado acerca de tudo, até sentir que a energia é a mesma. Que a sincronia existe. Daí a desconfiança desaparece.


Enfim, a música e a letra.
Let'em in!



Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Do me a favor
Open the door and let'em in.

Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Do me a favor
Open the door and let'em in.

Sister Suzie
Brother John
Martin Luther
Phil and Don
Brother Michael
Auntie Gin
Open the door and let'em in.

Sister Suzie
Brother John
Martin Luther
Phil and Don
Uncle Ernie
Auntie Gin
Open The Door
And Let 'Em In

Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Do me a favor
Open the door and let'em in.

Sister Suzie
Brother John
Martin Luther
Phil and Don
Uncle Ernie
Uncle Ian
Open The Door
And Let 'Em In

Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Someone's knockin at the door
Somebody's ringin' the bell
Do me a favor
Open the door and let'em in.

domingo, 7 de novembro de 2010

De volta

Foi muito bom ter passado um dia em Brasília. Reparei que já passei muitos dias lá [2006, 2007, 2008 e 2010]. Sempre é legal ficar um tempo em Brasília, cidade que apesar do tempo seco, me é fascinante.

Foi muito bom ter visto a beleza da Chapada dos Veadeiros. Que lugar lindo! Cachoeiras maravilhosas, paisagem de tirar o fôlego...calmaria e tranquilidade na medida certa. Foi bom ter feito amizade com dois casais de Goiânia. Me garantiram boas risadas e boas conversas regionalistas!

A volta ainda me preocupava, porque apesar de tudo, a dor continuava um pouco, mesmo que de leve.

Mas foi tudo bem. A cabeça já tá no lugar. A consciência, mais tranquila do que nunca.

Apesar de ser um problema extremamente pequeno [em vista de muitas outras coisas], foi grande pra mim. Mas recebi apoio de muita gente. Mais importante que isso, recebi a compreensão deles. De amigos da vida, de amigos do trampo. Que entenderam que, pequeno ou grande, qualquer arranhão no idealismo dói.

Foi importante ter conversado com o padrinho, com os mestres-de-obra, com a chefe, com o colega arquiteto. Ter recebido apoio do amigo dos tempos de CA, do amigo dos tempos de movimento estudantil. Da irmã.

Mas, a vida continua. Mais desafiadora do que nunca. E bola pra frente!