sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sobre chefes

Eu tive dois empregos que me marcaram muito nessa vida, até agora.

Um foi em Campinas, ainda como estudante de Arquitetura, num escritório que fazia projetos de iluminação. Antes de ir pra lá, eu trabalhei numa assistência técnica a uma grande empresa de luminárias. Fazia projetos pro Brasil inteiro. Um dia me cansei, fiquei de molho um mês em casa, depois fiquei cerca de 3 meses num escritório fajuto de arquitetura, e logo fui chamada por um colega para ajudá-lo no escritório que ele havia recém-aberto. Só trabalhava com iluminação, e como era eu, ele e mais um instalador eletricista, tínhamos isonomia total. Quando o negócio tava dando muito certo, eu fazia alguns projetos e meu "chefe" fazia outros. Tudo era decidido coletivamente, desde o orçamento a ser entregue ao cliente quanto às soluções de projeto. As reuniões com os cliente ficavam a cargo do chefe, com muito mais lábia que eu, e a mim cabia convencer o cliente através da matemática e dos programas específicos. O salário não era típico de estagiário, eu recebia quase que como profissional recém-formado. Me bancava o aluguel e as cervejas, e isso me bastava. Fiquei lá de 2005 a 2008, até me formar e decidir voltar pra São Paulo.

O outro trampo foi mais tarde, em 2009. Funcionária pública da cidade de Embu das Artes, trabalhando diretamente com coordenação de obras - principalmente - e muitas outras coisas secundárias, envolvendo favelas e habitação de interesse social. Fazia de tudo um pouco, mas ainda com a mesma isonomia do trabalho de Campinas, sendo este conquistado com muito trabalho. Foi lá que firmei em mim mesma minhas convicções políticas, foi lá que me desapeguei de muita coisa, foi lá que vivi com o mínimo possível morando de aluguel e ainda pagando minhas cervejas, morando no centro de São Paulo. Ainda era o que bastava à minha vida. Desse emprego já falei muito por aqui.

O que tem de comum nos dois lugares era a confiança dos chefes e a isonomia, cada um fazendo sua parte para o todo, cada um de nós contribuindo no melhor que podiam. De modo que, quando chamo de "chefe" cada um deles, nada mais é que uma maneira irônica de chamá-los, já que de forma alguma eram chefes no modo hierárquico de se resolver a vida profissional. Eram colegas e, antes de tudo, amigos que me ajudavam de toda forma possível. Me ouviam, me davam conselhos, me davam cerveja e me faziam rir e refletir através das inúmeras histórias. Cada um a seu jeito. E que sabiam confiar, delegar tarefas e passar responsabilidade como se fôssemos todos iguais. E éramos. Bons tempos...!

E me coloquei a postar isso hoje porque, depois de 4 anos, revi meu chefe de Campinas, com a banda dele aqui em São Paulo, onde colocamos a conversa em dia, rimos bastante e me bateu uma baita saudade da vida campineira muito tranquila e cheia de responsabilidades, ainda assim.

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