quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mais do trampo

Tava lembrando, esses dias, de como comecei meu trampo em Embu.

[Pra quem não sabe, trabalho com urbanização de favela - minha função é principalmente na construção de unidades habitacionais. O que inclui vistoria, reuniões com moradores e resolver os inúmeros problemas de última hora.]

Mas cheguei numa época que as obras estavam bem paradas. Fiquei uns 10 meses só vistoriando a fase final de obra, que é bem estressante, mas monótono.

Não se compara a começo de obra.

É bem emocionante ver as paredes serem erguidas, acompanhar o projeto pra ver se os caras tão fazendo certo. Na obra de agora, estamos utilizando tijolos de solo-cimento, sem acabamento nenhum. Tudo aparente. O que redobra a nossa atenção quanto à execução. Tudo muito bonito, tudo muito estressante, mas emocionante, mesmo assim.

E eu, que nunca soube sequer dimensionar uma construção, nem fazer um projeto completo, estou lá manjando um pouco mais de estrutura, sabendo qual ferro e qual concreto usar. Sabendo passar as informações do projeto pros mestres-de-obra. Sabendo vistoriar e dar soluções em qualquer problema que apareça.

Esses dias falei pra chefe o quanto eles arriscaram comigo, contratar alguém que nunca teve experiência nisso pra cuidar de obras de tamanha responsabilidade. Daí que ela me contou que, na época que fiz entrevista, tinha mais duas meninas que interessaram a eles. Mas me escolheram porque eu era da UNICAMP, e que seria legal ter mais alguém representando uma faculdade pública (ela é da USP, e meu colega se formou na UNESP Bauru - os dois me entrevistaram).

Acho que pensaria da mesma forma.

Na segunda semana que cheguei, fui convocada pra fazer selagem numa favela, num sábado de manhã. Foi a primeira vez que vi minha responsabilidade, quando a chefe disse, numa reunião na sexta-feira, que era pros estagiários me obedecerem na área. Eles, que sabiam muito mais que eu de selagem, me respeitaram e me ajudaram bastante nesse começo. Ficamos amigos e tomávamos umas cervejas algumas noites. Pena que foram embora, por causa do fim do contrato.

De lá pra cá, minha chefe já me deu broncas homéricas. Dessas que o pessoal vem me perguntar depois se eu tava bem. Como sou bem tranquila, nunca me afetou muito. Até porque eu tava errada mesmo. Mas com o tempo começamos a nos entender melhor [a ponto de estar num projeto paralelo com ela]. Acho que peguei o ritmo dela, embora eu ainda acho que faço muito pouco por lá, perto dela e do meu colega. Mas, desde o começo, sempre a admirei muito [e isso nem é puxa-saquismo, não faço questão disso] e me espelho nas ações dela. É bom ter alguém admirável no trampo. Me faz bem ter alguém que me entende quando fico frustrada com muita coisa.

Acho que estou indo bem. Exceto os desmandos políticos e demais ações arbitrárias, não imaginaria trampo melhor prum começo.

Valo Verde - Embu/SP

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