domingo, 11 de outubro de 2009

A morte da Augusta

Sexta-feira, 19:30. Passo pela rua Augusta do começo ao fim, no ônibus que vem de Embu das Artes com destino ao Anhangabaú. Trânsito leve, baladeiros atrás de matinês baratas, em sua maior parte crianças de 14 anos, jovens executivos e assalariados em geral à procura da cerveja amiga do fim de expediente e/ou comemorando mais um fim de semana prolongado. Em uma hora, seria meu destino também, ao encontrar dois amigos na estação Consolação.

Pausa rápida em casa para tomar banho, arrumar a bolsa, fumar um cigarro para curar o cansaço do trânsito carregado ainda em Taboão da Serra e de volta à Augusta. Algumas cervejas, um lanche, sessão de cinema às 21:50. A quanto tempo não ia num cinema....filme bom, desses de arrepiar a alma. Logo após o filme, reencontro com o mesmo amigo da cerveja antes do cinema, e mais algumas num bar de rockeiros clássicos, com música boa, conversa saudosa, lembranças resgatadas.

Eis que, à uma da manhã, o garçom vem pedir pra pagar a conta. Eu já estava ciente que alguns bares fechavam à meia-noite, vítimas da lei anti-fumo e, conseqüentemente, da lei do silêncio. Mas não acreditamos que o bar, que ficou servindo até a uma da manhã, fecharia naquela hora. Desacreditados, saímos do bar, ainda com sede de mais cerveja. Um dos amigos foi embora, de skate, rumo à estação Paraíso. Eu e mais outro amigo continuamos descendo a Augusta, na esperança de acharmos mais algum bar aberto.

A esperança foi se esvaindo assim que chegávamos à Praça Roosevelt. Foi triste ver o bar que fiquei das sete da noite às seis da manhã com outros amigos queridos, num agora distante maio desse ano, fechado. A partir de então, nos conformamos em ir pra casa, conversar mais um pouco e dormir. Nem o bar da esquina de casa, que eu achei que ficaria aberto até umas três da manhã, estava disponível.

Quando chegamos em casa, a fala foi a mesma: mataram a Augusta. A rua que sempre me serviu de apoio e de residência nas horas de bebedeira, dessa vez em diante já não me seria a companhia da madrugada. Assim como as outras ruas do centro, com bares que tanto agüentaram minhas emoções e minhas risadas. A Augusta, assim como muitas outras ruas, morre à uma da manhã em São Paulo, que perdeu de vez o título de “a cidade que não dorme”.

São Paulo está obrigada a dormir, a fechar os olhos quando está no auge da diversão. Assim como as crianças que se recusam a dormir às dez da noite, sob as ordens e ameaças muitas vezes severas dos pais. Diversão de fato, agora, só emendando na casa de alguém, ou em alguma balada fechada e por vezes caríssima a quem só está à procura de um ambiente agradável e adequado para uma boa conversa, com algumas muitas cervejas como acompanhamento.

[Tenho ciência que o assunto do post não é original - muitos já devem ter falado sobre isso. Mas publico assim mesmo.]

Um comentário:

cafeiina disse...

concordo-discordo
nao consigo ler a morte da augusta e me conformar.
todos os bares fecham, alguns ainda ficam e tem lotado. santa augusta, o the pub ou as baladas, as vezes caras.
mas nao concordo q ela morreu depois da 1h.ontem fiquei até as 4 e meia.