domingo, 10 de abril de 2011

Do Morumbi

[Da série "homenagens". Porque, parafraseando minha mãe, "sou da escrita, e não da fala". E porque deu saudades imensas...]

"Ela nunca teve nada a ver comigo. Na primeira vez que a vi, eu tava com a camiseta com o nome do bisavô dela, e alguém me disse: “Você sabe que a bisneta desse cara aí tá presente nesse Conselho, né?”. Não acreditei, obviamente, e nem dei bola pra conhecer também. Era fã do cara, e não dela. Isso foi em setembro de 2006, em Campinas.

Demoramos mais de 6 meses pra trocar um diálogo ao vivo. O tempo foi menor pela internet, quando ela elogiou um texto que fiz sobre Reforma Urbana, 2 meses depois de tê-la conhecido ao vivo. Eu não era nada, ela já era respeitada e tinha opinião forte sobre muita coisa, sem medo de dar a cara a tapa. Estivesse certa ou errada. E acho que foi esse jeito meio arrogante que me conquistou, até porque era a única coisa em comum entre nós, até então.

Com o tempo, aquela pessoa que não dava muita bola pro povo mais novo, principalmente pros tímidos como eu, foi me conquistando. Começamos a falar de música, mesmo que bem de leve. Começamos a falar de Arquitetura, a beber junto com os amigos dela (que viriam a ser parte da minha família, mais tarde). No mesmo dia que falamos sobre música, ela me convidou pra ver o acervo de projeto do bisavô dela. Foi ao fim desse mesmo dia que eu, chapada, dizia a ela que tudo bem ir numa balada coberta de purpurina e com o cabelo todo destrambelhado.

E assim foi. A arrogância foi perdendo campo, e me toquei que ela transmitia uma energia muito boa. Vê-la nos Conselhos me fazia muito bem, pela força de vontade, pela vontade de mudar muita coisa, pelo amor e pela paixão de tudo aquilo. Via nela uma pessoa que dava de tudo pela causa, e foi isso que me fez uma grande diferença. Mesmo que na hora eu não soubesse captar exatamente o que era.

Foi passando o tempo, a sintonia foi afinando. Não dá pra esquecer quando ela me disse pra eu não sumir, quando eu tava prestes a me formar, em 2007. Não dá pra esquecer a alegria dela quando falei que ia trancar o curso pra assumir uma Diretoria. Não dá pra esquecer o orgulho que tive quando ela me disse que continuava nisso porque eu resolvi continuar também. Tudo isso foi me enchendo de orgulho e de medo de desapontar uma das pessoas que eu tinha como referência. Uma menina que é 2 anos mais nova que eu, mas que tem uma maturidade muito superior que a minha.

A gente continuava a ter pouca coisa em comum, mesmo assim. Mas desenvolvemos uma amizade e cumplicidade que eu nunca teria com quem conhecia a pouco tempo e via a cada 2 meses.

Um famoso ritual, num distante 2007, veio reafirmar esta relação, e ela se consolidou como uma das melhores pessoas que tenho na vida. Foi aí que eu servi de apoio pra ela, foi aí que ficou reafirmado que eu teria com quem contar pra vida inteira, foi aí que firmamos um pacto de amizade fraterna. Aí que ela virou a pessoa para repartir alegrias e tristezas, de chorar junto, de sentir as mágoas da mesma forma.

Virou a pessoa que me dá bronca, que sabe o jeito que eu sou e sabe o que eu preciso ouvir pra desabar em choro. E sabe que isso me faz bem, mesmo que eu pareça sofrer muito na hora. A pessoa que me diz que, apesar de tudo, vai dar tudo certo. A pessoa que cuida de mim e que me defende, estando eu certa ou errada. A pessoa que às vezes esquece que eu existo, mas que sempre que precisa sabe que vou estar aqui, de braços abertos. A pessoa que às vezes eu esqueço que existe, porque quando me lembro dela é que eu noto o tanto que ela já fez por mim. E o quanto a saudade dela me aperta o coração.

Já faz cinco anos que nos conhecemos. De uns tempos pra cá, nos vemos uma vez por ano, quando muito. Mas, quando a encontro, parece que nos vimos ontem. Pode parecer o clichê mais idiota para amizades, mas não escreveria se não fosse verdade. Só espero que ela saiba que, mesmo me dizendo um monte de coisas totalmente bêbada, e mesmo que eu nunca consiga retribuir publicamente os elogios, o carinho, a atenção e o amor, que ela saiba que a reciprocidade existe, a admiração é forte e o amor é grande. Do tipo que, mesmo se eu não fosse tímida, não teria palavras pra dizer."

4 comentários:

cafeiina disse...

e eu fico tranquila, de saber q ela tem pessoas assim como vc, q a amam tanto qto eu!
e quem bom q são muitas né!
a minha filhotinha!

venha sempre e venha mais leila!
vc é mto bem vinda, sempre!

Mina Hugerth disse...

As asneiras que eu te falo são muito menos do que tudo isso que você disse agora, tô emocionada!
E, pasme, fiquei sem palavras (e você bem sabe que isso não me acontece muito).
Mas você sabe que eu te acho sensacional, e será sempre bem vinda na minha casa e na minha vida!

leila disse...

eu escrevi isso em 2009. só precisou do último parágrafo atualizado.

(por um minuto, achei que a madrinha não ia gostar da exposição, mas decidi arriscar!)

e se falar de amor, do sentido da arquitetura, da vida e tudo mais são asneiras...bom, preciso mudar meus conceitos!

Mina Hugerth disse...

É, talvez não, mas você fala mais bonito :)